BC anuncia queda nas concessões de empréstimos bancários no Brasil de 11,1% em janeiro

O ano de 2024 começou com uma queda expressiva nas concessões de empréstimos no Brasil, segundo dados divulgados pelo Banco Central (BC) na última sexta-feira (8). Em janeiro, o volume de crédito concedido pelos bancos recuou 11,1% em relação a dezembro de 2023, totalizando R$ 333,6 bilhões. O estoque total de crédito também apresentou uma redução de 0,3%, fechando o mês em R$ 5,777 trilhões, o que representa 75,1% do Produto Interno Bruto (PIB).

A queda nas concessões de empréstimos foi generalizada entre os segmentos de recursos livres e direcionados, que atendem a diferentes modalidades e finalidades de crédito. No segmento de recursos livres, que são aqueles em que as taxas de juros são definidas livremente pelos bancos, as concessões caíram 9,5%, somando R$ 256,2 bilhões. No segmento de recursos direcionados, que são aqueles em que as taxas de juros são reguladas pelo governo, as concessões despencaram 25%, totalizando R$ 77,4 bilhões.

Entre as pessoas jurídicas, as concessões de crédito com recursos livres recuaram 13,8%, para R$ 97,9 bilhões, enquanto as concessões com recursos direcionados caíram 28,6%, para R$ 36,7 bilhões. Entre as pessoas físicas, as concessões de crédito com recursos livres diminuíram 6,9%, para R$ 158,3 bilhões, enquanto as concessões com recursos direcionados reduziram 19,7%, para R$ 40,7 bilhões.

Fatores que explicam a queda nas concessões de empréstimos

De acordo com o BC, a queda nas concessões de empréstimos em janeiro pode ser explicada por diversos fatores, entre eles:

- O efeito sazonal, que reflete a menor demanda por crédito no início do ano, após o aumento das operações no final do ano anterior, em função das festas de fim de ano, do 13º salário e do pagamento de impostos e despesas típicas de janeiro.
- O aumento da taxa básica de juros (Selic), que subiu de 2% ao ano em dezembro de 2023 para 2,75% ao ano em janeiro de 2024, como medida do BC para conter a inflação, que fechou o ano passado em 9,68%, acima do teto da meta de 5,25%. O aumento da Selic encarece o custo do crédito e reduz a atratividade das operações para os tomadores e os bancos.
- A piora do cenário econômico, que afeta a confiança e a renda dos consumidores e das empresas, diante do agravamento da pandemia de C19, das medidas de restrição à circulação de pessoas e do fim do auxílio emergencial, que beneficiou cerca de 68 milhões de brasileiros em 2020 e 2021. A expectativa do mercado é de que o PIB tenha uma retração de 0,4% no primeiro trimestre de 2024, após crescer 3,2% em 2020 e 1,8% em 2021.

Impactos da queda nas concessões de empréstimos

A queda nas concessões de empréstimos no Brasil tem impactos negativos para a economia, pois reduz a capacidade de consumo e de investimento das famílias e das empresas, que dependem do crédito para financiar suas despesas e seus projetos. Além disso, a queda nas concessões de empréstimos também afeta a rentabilidade e a solvência dos bancos, que têm no crédito uma de suas principais fontes de receita e de lucro.

Segundo o BC, a margem financeira de juros dos bancos, que é a diferença entre a receita de juros e o custo de captação, caiu 0,4 ponto percentual em janeiro, para 29,8 pontos percentuais, no segmento de recursos livres. A inadimplência, que é o percentual de operações com atraso superior a 90 dias, subiu 0,1 ponto percentual, para 4,6%, no mesmo segmento. O índice de Basileia, que mede a capacidade dos bancos de absorver perdas, recuou 0,2 ponto percentual, para 17,2%, ficando acima do mínimo exigido de 10,5%.

Perspectivas para os próximos meses

As perspectivas para os próximos meses são de que as concessões de empréstimos no Brasil continuem em baixa, diante dos desafios impostos pela pandemia, pela inflação, pela política monetária e pela situação fiscal do país. O BC projeta que o estoque total de crédito cresça 7,8% em 2024, abaixo dos 15,5% registrados em 2020 e dos 9,5% observados em 2021. O segmento de recursos livres deve crescer 11,6%, enquanto o segmento de recursos direcionados deve crescer 3,2%.

Para estimular a retomada do crédito, o BC tem adotado medidas como a ampliação do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), que oferece crédito com juros baixos e garantia do governo para os pequenos negócios, e a implementação do open banking, que permite o compartilhamento de dados e serviços entre instituições financeiras, aumentando a concorrência e a oferta de crédito no mercado.

No entanto, essas medidas podem não ser suficientes para reverter a tendência de queda nas concessões de empréstimos, caso não haja uma melhora na situação sanitária, na vacinação da população, na recuperação da atividade econômica e na estabilidade política e institucional do país. Por isso, é fundamental que o governo e o Congresso avancem nas reformas estruturais, no ajuste fiscal e nas medidas de combate à pandemia, para restaurar a confiança dos agentes econômicos e favorecer a retomada do crédito e do crescimento no Brasil.